Centenas de pássaros vítimas de tráficos morrem antes de soltura

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Animais resgatados do comércio ilegal são os mais suscetíveis a morte, aponta Cetas 

Janderson Oliveira 

A apreensão de cerca de 850 pássaros pela Polícia Federal Rodoviária (PRF), em agosto, acabou em soltura na última quinta-feira (2), realizada pelo Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis Naturais (Ibama). No entanto, a felicidade de voltar à natureza não foi para todos. 393 pássaros morreram antes de serem soltos. A informação é do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). 

“Quando a apreensão vem do tráfico, é muito difícil evitar o óbito”, afirma Ana Cecília, veterinária do IMA alocada no Cetas. “Os traficantes transportam os animais em condição completamente negligente. Caixas muito pequenas com até 120 animais, sem poleiro, sem espaço para voar. Estressados e amontoados, eles pouco se alimentam e quando acontece, é com comida jogada e misturada as fezes. Não tem água”, detalha. 

Até 120 pássaros foram encontrados amontoados em pequenas caixas com dimensão de 70cm de comprimento por 50cm de largura e 10cm de altura

Entre os óbitos registrados, foram 119 cabloquinhos, 115 papa capins, 114 canários da terra, 43 papa capins de coleira (não nativos de Alagoas) e 2 patativas. Esses números refletem a gravidade do tráfico de animais que abastece feiras e estabelecimentos.  

“O Cetas recebe muitos animais em maus tratos, mas os que vêm do tráfico são os casos mais chocantes. Chegam mortos ou debilitados, sujos de fezes e muito estressados”, relata Ana. “Colocamos eles em lugares de poleiros naturais, com muita comida de boa qualidade, polivitamínico na água e limpeza do viveiro todos os dias”, conclui. Ainda assim, houve casos de pássaros que precisaram retornar da soltura, pois se mostraram fracos, sem conseguir voar. 

Seis pássaros não resistiram no trajeto até o local de soltura. Foto: Ascom/IMA

A equipe do Cetas está elaborando laudos de maus tratos que serão usados como agravantes ao autos de infração aplicados aos criminosos flagrados com os pássaros. A veterinária Ana faz um apelo à população para combater o tráfico de animais, presente no cotidiano das cidades. 

“A gente publica essas fotos para sensibilizar às pessoas a não serem coniventes com o tráfico. Comprar pássaro em feira e em estabelecimentos ilegais, ou aceitar como presente de terceiros, também é participar da cadeia do tráfico. É colaborar para a estatística de que a cada 10 animais retirados da natureza, nove morrem”, alerta Ana. 

Aos que se interessam na criação amadora de passeriformes, deve-se procurar criatórios com CNPJ licenciado por órgão ambiental competente, além de possuir o documento de criador emitido pelo Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (SisPass).  

Quem encontrar um animal em estado de tráfico, pode enviar localização e fotos para o aplicativo IMA Denuncie – disponível para Android e iOS, ou ligar para o Batalhão de Polícia Ambiental em 3315-4325 / 98833-5879. 

A entrega voluntária, sem risco de ser criminalizada, também pode ser feita ao Cetas, na sede do Ibama, localizado na avenida Fernandes Lima, N° 4.023, no bairro do Farol, em Maceió.