Atividade cria hábito que pode colaborar para a saúde mental
Janderson Oliveira
O Governo do Estado de Alagoas decreta desde o dia 13 de março medidas de isolamento social para diminuir a curva de contágio do novo coronavírus. Nesse cotidiano diferente, o interesse pelo cultivo de plantas em ambiente doméstico tem aumentado, aponta comerciantes. Reestabelecer laços com a natureza também pode ajudar as pessoas a construir uma nova rotina durante a pandemia, de leveza e prazer ao psicológico.
Várias espécies presentes na flora alagoana podem ser criadas em ambiente doméstico, afirma Isabel Nepomuceno, gestora ambiental do Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL). “Temos espécies originadas na Mata Atlântica e Caatinga que são muito utilizadas no paisagismo, em destaque o guaimbé e a coroa-de-frade”, afirma a agente da Gerência de Fauna, Flora e Unidades de Conservação (Gefuc).
As atividades do setor comercial de plantas têm aumentado não apenas nas vendas de espécies, mas também na procura por cursos online, relata Anderson Santos, professor e fundador da Escola de Botânica.
“São seis anos dando aula de cultivo de plantas em casa e tenho notado nesta quarentena um aumento na procura. A maioria dos interessados é da capital ou zona urbana e sentem falta do contato externo, de visitar lugares públicos, como parques. As pessoas querem cultivar plantas como se estivesse trazendo um pedaço das praças públicas, a natureza, para casa”, afirma o botânico mestre em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica de São Paulo.
Anderson recomenda iniciantes a começar com plantas pequenas e buscar o máximo de informações sobre as espécies que deseja, pois é essencial ter conhecimento dos cuidados necessários. “O mercado cresceu tão rápido que hoje as plantas viraram produto. A pessoa compra e vai embora, sem conhecer o que está levando pra casa”, revela.
É importante também que haja afinidade com o bioma da região. Uma espécie que precisa de muita água, se criada na caatinga, bioma caracterizado por longos períodos de estiagem, pode exigir mais cuidados e deve ser aguada com maior frequência.
Não existe uma lista pré-determinada de plantas para o ambiente doméstico. O interessado deve conhecer a própria casa. É tarefa do indivíduo proporcionar condições favoráveis às espécies, principalmente quanto a iluminação natural, imitando em casa o que acontece na natureza.
As cactáceas são vistas no ambiente com exposição direta e constante ao sol, portanto deve-se posicionar o vaso no lugar mais iluminado da residência.
Isabel Nepomuceno, gestora ambiental do IMA, recomenda cultivar espécies que exigem pouca água: o Guaimbé (Philodendronbipinnatifidum), coroa-de-frade (Melocactusbahiensis), mandacaru (Cereus jamacaru), bromélias, a orquídea “rainha-do-sertão” (Cattleyalabiata) e a Clusia (Clusiafluminensis). Apesar de dispensar a rega diária, cada planta pede cuidados, vasos e iluminações diferentes.
Estas espécies podem ser encontradas facilmente na flora alagoana, mas não podem ser retiradas do ambiente natural sem a devida permissão legal. A atividade configura infração ambiental. Dessa forma, as plantas devem ser adquiridas de produtores comerciais legalizados.
Outra tendência é o cultivo de espécies regionais frutíferas em vasos. São fáceis de cuidar, precisam apenas de uma boa rega, fertilizá-las sempre que possível e dispor em ambientes bem ensolarados. São exemplos de espécies frutíferas regionais ideais para cultivo em vasos: cambuizeiro (Missisria floribunda O. Berg), jabuticabeira (Plinia cauliflora), araçazeiro (Psidium cattleianum), pitangueira (Eugenia uniflora) e a aceloreira (Malpighia emarginata).
Um cultivo que pode trazer leveza ao cotidiano
Cultivar plantas em casa requer um cuidado diário próximo e isso cria uma rotina que pode ser essencial durante este período de pandemia e distanciamento social, em decorrência do Covid-19, aponta Telma Low, professora de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas.
“Vivemos um período de exceção, um momento desafiador para todo mundo, sem a normalidade anterior a essa pandemia. Por isso é importante construir uma nova rotina, sem as necessidades que tínhamos, pois não é mais possível supri-las”, expõe a psicóloga.
É momento de aprender novas atividades, dedicar-se em aprendizados ou simplesmente buscar o que faça bem e traga alívio, é o que afirma Telma. “Para quem pode ficar em casa, é recomendado tomar um momento para si e descobrir coisas que podem dar prazer e trazer leveza ao cotidiano, a exemplo de cultivar plantas, mas também meditar, escutar música, rezar; todo mundo tem algo que te deixa mais tranquilo”.
Os vínculos de solidariedade são essenciais nesse momento, manter contato com amigos e família, mas ao sentir angústia, insônia, estresse; não ignore, procure por ajuda.
É possível entrar em contato com a unidade mais próximo de Centro de Atenção Psicossocial, sendo 55 distribuídas pelo Governo do Estado, disponível em http://cidadao.saude.al.gov.br/unidades/caps/. Também está aberto o atendimento digital com psicólogos cadastrados na plataforma e-Psi do Conselho Federal de Psicologia, acesse em https://e-psi.cfp.org.br/.